Forças armadas não são a solução para se enfrentar a criminalidade
no Brasil, mas não resta dúvida de que podem cooperar com as polícias
não apenas na produção de conhecimento e intercâmbio de informações na
área de inteligência como também no apoio logístico a operações
policiais. O emprego de apenas seis blindados M-113, americanos, do
Corpo de Fuzileiros Navais, da Marinha, foi suficiente para que a
polícia fluminense retomasse um dos maiores bunkers do tráfico de
drogas, do Rio, localizado na Favela da Vila Cruzeiro, na Penha, ao lado
do Complexo do Alemão, outro reduto dos bandidos. Para lá foram os
criminosos expulsos das favelas retomadas pelo Estado por meio da
instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
Os
traficantes provaram do próprio veneno cujo antídoto tem sido implacável
- o emprego de armas de guerra na proteção de suas áreas e de seus
interesses. Sem disparar um único tiro das duas potentes metralhadoras
.50 - que mandam duas mil balas por minuto e são capazes de derrubar um
helicóptero - os carros blindados de assalto dos fuzileiros navais
botaram a bandidagem pra correr. Literalmente. As imagens de cerca de
200 bandidos em fuga, armados, mas como um exército brancaleônico -
transmitidas do helicóptero da TV Globo e exibidas ao vivo ontem à tarde
- são estarrecedoras. Os criminosos corriam desesperadamente por uma
estrada atrás da favela, onde não havia sequer uma patrulha da PM. Foi a
principal falha da operação considerada bem-sucedida pelo fato de o
estado ter derrubado o mito de que a Vila Cruzeiro era um território
inexpugnável. Não é. O próprio Bope já fincou lá sua bandeira há alguns
anos.
O grande desafio será agora a polícia permanecer na Vila
Cruzeiro até que reúna efetivo suficiente para implantar lá a 15a UPP.
Para que essa UPP vingue, o estado terá que ocupar também o conjunto de
favelas vizinhas conhecido como Complexo do Alemão, justamente para onde
foram os bandidos em fuga. Nenhum deles foi preso. A transmissão da
fuga dos bandidos foi assistida em clima de "Tropa de Elite 3", com os
telespectadores torcendo para que o hélicóptero da Globo saísse da linha
de tiro e entrasse em ação algum snipper numa aeronave da polícia. Só
que o único helicóptero da Polícia Civil que estava por lá não se
arriscou a se aproximar muito para não ser abatido por tiros de fuzis
dos bandidos, como já ocorreu no Morro São João, no Engenho Novo.
Os
bandidos escaparam ilesos porque - acredite - o helicóptero blindado
da Secretaria de Segurança, que custou uma baba, está em manutenção.
Isso enfraquece a amizade. Felizmente o Ministério da Defesa, atendendo a
pedido feito pelo governador Sérgio Cabral, no início da semana, está
enviando hoje ao Rio dois helicópteros da FAB, blindados e 800 homens
do Exército. Na operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) Eles vão
atuar no cerco tático das áreas conflagradas, em checkpoints - barreiras
de fiscalização de pessoas e veículos. Essa atuação das Forças armadas
tem sido bem-sucedida na cidade desde a Rio 92 - a reunião de chefes de
estado para o meio ambiente. Em 2008, o Exército ocupou o Complexo do
Alemão para garantir a realização de eleições na favela ameaçada pelo
controlo do tráfico.
Agora resta uma boa estratégia de
policiamento no asfalto para conter as ações incendiárias. E, por fim,
nunca é demais lembrar: o principal papel das Forças armadas na luta
contra o crime ainda está por acontecer no Brasil. Está no confrole
efetivo das fronteiras, rios e praias, por onde entram os equipamentos
que garantem aos criminosos o domínio dos territórios - as armas de
guerra e munições.
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